Quando muito acerta a esmo, sem pressa, ao desatino de sua espingarda. Ou então lança nos dados seu descontentamento. Sabe que presa melhor – o desmembramento de si, ou pelos menos se preza, como transeunte. Entende seu desapego, mas verdade é fruto belo, como o rolo de Ezequiel. Queria ser trapezista, faltaram-lhe as peripécias de um ontem ainda por vir. Depois, mais moço, resolveu que tinha de conter em si um deus, fracassou, por pouco não morre – de desespero. Só assim descobriu que ser deus é ser infeliz.
Ainda lhe faltaria muito tempo por descobrir o que não queria. Fatalidade esta e desconsolo. Inverdades dizíamos nos dias de hoje, inverdades. Gostava desta palavra, chique, bonita e, de certo modo, elegante. Inverdades...in... ver... inverno... infer-dades... Pois... dizia, tomava gosto por dizer até que, de tanto dizer, como música muito demais de ouvida, largou-a e pôs outra roupa nela e foi embora. Era pra ser assim pelo menos, quando pedem as pessoas a sua hora de falar no debate: uma escolha de palavreados mais pomposos ou menos – à maledicência. Aquilo de ser deus embaixo.
Tempo acho que era isso... vivia o tempo que alguns desdisseram, blasfemaram existir. E foi ele mesmo, o infeliz, procurando o termo certo naquela enciclopédia maluca de palavras... o dicionário. Quando breve afugentava... o tempo.. esquecimento ou segunda alma... ouvira dizer... colher, colher tudo que é barato, às expensas do tempo sem relutar, relutância. Mas logo, era o dito e feito dos que nos esconjuraram. Sem disparates, era bonito de ver...só vendo.
Já de muito se dava a tanto descontentamento. E nem era mais tão clara a razão desse seu descontentar-se. Talvez, por isso, um fim de mundos de e razões, que agora eram somente conjeturas – nada de um preciso diagnóstico. Nadica de nada... era agora seu refrão – diurno e diário – para expor suas reclamações ao detentor de sua agonia. Este, sabe-se se lá se deus ou estadista, déspota ou esclarecido, nunca lhe pronunciara sequer parecer. Isto é, precisava ler e conjeturar sobre os sinais que lhe apareciam no decorrer de sua infausta existência.
Talvez se em algum sonho, pensou Anderson, pudesse ao menos reavivar minha ilusão primeira, talvez pudesse chamar isso, algo ainda intangível, de felicidade. Mas a que nível precisaria destinar todas as minhas forças de concentração, isso não saberia. O fato é que Anderson não possuía sequer um aparelho desses, de nova geração, medidores de freqüência anímica. Decerto ia ser um atrapalhamento que só vendo. Porém o que seria mais claro e agradável do que trabalhar com a própria intuição?
- A intuição das coisas consegui calado. Vendo tão desespero tal enfadamento, sabia qualquer movimento pelo caminho tortuoso. Buscou alguma chance em sonhos: método adquirido de-há-muito, internalizado pela proposta empírica de Seu Nataliegus Nominensis, como gostava de ser chamado o velho, seu vizinho, e em horas vagas, interlocutor. Seu Natal, era mais fácil o poreclamento, mesmo por-reclamando – a incompletude.